Temer ironiza o drama do trabalhador desempregado

 
 
 
A ironia e o desrespeito aos trabalhadores deu o tom do discurso de Michel Temer, nesta quinta-feira (27), em cerimônia no Palácio do Planalto. “…quem sabe quando os senhores (pequenos e médios empresários) saírem, os senhores convidam aqueles que estão lá fora para ver se não tem emprego, quem sabe dar um emprego, não é? Acho que é uma fórmula muito adequada, não é verdade?, discursou Temer. “Lá fora” acontecia um ato em defesa da legislação trabalhista.
 
Logo no início do discurso Temer ironizou os manifestantes do lado de fora dizendo “aqueles que não puderam entrar para comemorar esse grande ato do governo com suas vuvuzelas também aplaudem esse grande ato do governo federal”.
 
Os trabalhadores citados por Temer denunciavam o Projeto de Lei 5230/2016 que, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh),  viola a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e antecipa a terceirização em atividades-fim. O projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional foi sancionado durante a cerimônia.
 

Desemprego em alta

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de setembro mostram que o Brasil possui hoje 12 milhões de desempregados. 

No mesmo mês, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou a perda de 39.282 mil postos de trabalho. Em 2016 o Brasil perdeu até setembro 683,6 mil vagas. Nos últimos 12 meses são 1,6 milhão de vagas a menos.

 
O secretário de políticas sociais da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Rogério Nunes, se declarou “perplexo com a falta de escrúpulos e descaramento” da frase. Na opinião do sindicalista ficou clara a falta de compromisso de Temer com o combate ao desemprego.
 
“Por um lado, ele estava recebendo pequenos e médios empresários. Vai ter prazo dilatado para pagar dívidas. E para os trabalhadores não tem nada? Só esse tipo de palavra, esse achincalhamento. Só dialoga com o trabalhador para retirar direitos”, enfatizou Rogério. 
No mesmo evento em que Temer elevou o prazo para parcelamento das dívidas de pequenas e micro empresas, entre outras medidas, ele afirmou no discurso que as ações do governo federal favorecem o investimento e o crescimento econômico. 
Os efeitos do empenho do governo não foram sentidos pelas principais centrais de trabalhadores do país, que preparam uma jornada de lutas com greves e paralisações para os dias 11 e 25 de novembro. 
O alvo do protesto são as reformas trabalhista e previdenciária, sinalizadas pelo presidente. Os atos são organizados unitariamente por CTB, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Intersindical e CSP Conlutas programa.
PEC 241 e o agravamento do desemprego
 
O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), Clemente Ganz, avaliou que as medidas de Temer a curto prazo vão na contramão da retomada do crescimento e da geração de emprego e renda. Ele usou como exemplo a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 que foi aprovada nesta quarta-feira (26) na Câmara dos Deputados e será encaminhada para o Senado.
 
Clemente explica que a retomada do crescimento econômico exigiria por parte do governo uma capacidade de investimento e de sustentação de gastos que a PEC apresentada não admite. “Neste momento o que está sendo proposto pelo governo é uma ideia quase que alucinada de tamanho para o gasto público”, destacou. 
A PEC 241 congela por 20 anos gastos com despesas nas áreas de saúde, educação e assistência social, o que vai reduzir os serviços voltados para a maioria da população. “O estado tem papel importante na dinamização da economia mas quando o estado atua para restringir o investimento, ele, na verdade, está optando para não dar condições em curto prazo para essa saída de dinamização da economia. Não é uma opção que virá dos empresários e nem do mercado externo”, esclareceu Clemente.
Precarização das relações de trabalho
 
O ciclo perverso a que está submetido o trabalhador está longe de provocar riso diante de um quadro em que as pessoas desistem de procurar emprego e onde cresce o número de ocupações precárias. 
“A precariedade nas condições de trabalho impacta diretamente nas condições de vida, promovendo adversidade e fragilizando o trabalhador. Prejudica o que está desempregado e o que está empregado, que fica submetido a alto grau de estresse com a possibilidade de perder o emprego”, analisou Clemente.
 
A Informalidade é sinônimo de baixos salários, o que gera um efeito dominó na economia. “A redução da massa salarial traz redução da própria atividade econômica. Parte dessa dinâmica é dada pela capacidade do consumo do mercado interno. Se diminui essa capacidade, a dinâmica econômica sofre, o que impacta em diminuição dos postos de trabalho”, explicou o diretor do Dieese.
 
VIA Portal Vermelho