Os leilões, a atuação da Petrobrás e da Statoil

Por Caroline Scotti Vilain, pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP) da FUP, consultora do Pacific Institute for Research and Evaluation (PIRE), internacionalista (UFSC), mestre em Relações Internacionais (UnB)

Findada a etapa marítima da 15ª rodada com 22 dos 47 blocos arrematados, com um bônus total de R$ 8,0 bilhões. Ao todo, 12 empresas participaram de ofertas vencedoras, das quais 10 estrangeiras e duas brasileiras (Petrobras e QGEP). Segundo a Brasil Energia, o maior bônus ofertado foi de R$ 2,8 bilhões, no consórcio vencido pela ExxonMobil (40%), QPI (30%) e Petrobras (30%) no bloco C-M-789, na Bacia de Campos. Não houve ofertas para os blocos terrestres oferecidos.

Desta vez, a formação de consórcios e a diversificação de operadoras marcaram a rodada. Petrobras, Shell e ExxonMobil se revezaram em alguns consórcios como operadoras e não operadoras. A ExxonMobil participou oito consórcios vencedores, sendo seis como operadora. A Petrobras e a Wintershall arremataram sete blocos, mas a estatal brasileira ficou como operadora em cinco deles e a alemã em quatro. A Statoil, a QPI Brasil, a Chevron e a Shell estiveram em quatro consórcios vencedores,.. ExxonMobil, Murphy e Queiroz repetiram a parceria da rodada anterior. Somente a ExxonMobil, a Petrobras e a Statoil foram responsáveis por 76% (cerca de 6,1 bilhões dos 8 bilhões) da arrecadação obtido mediante os bônus de assinatura. A ExxonMobil retornou aos leilões depois de uma ausência na 3a rodada do pré-sal e a Petrobras manteve seu papel de “puxar” a entrada de novas parceiras em áreas promissoras, neste caso da Bacia de Campos. O caso da Statoil, por sua vez, tem merecido uma atenção especial.

A norueguesa não atuou como operadora nesta rodada e as quatro áreas arrematadas pela empresa na Bacia de Campos demonstram uma tendência de continuar investindo em blocos vizinhos a concessões que já opera. Segundo a Brasil Energia, Anders Opedal, presidente da Statoil no Brasil, afirmou que a companhia olha para o país no longo prazo e destacou o bom ambiente regulatório, qualidade dos reservatórios e competência da indústria fornecedoras como diferenciais do país. “’Isto fortalece nossa posição em Campos, onde já temos licenças em Peregrino, Roncador e no BM-C-33 (Pão de açúcar)’, afirmou Opedal. Opedal destacou o conhecimento da Petrobras na geologia brasileira e a experiência da Exxon em águas profundas como diferenciais na escolha dos parceiros. De acordo com o executivo, a partir de agora a companhia norueguesa começará a avaliar a possibilidade de participar da 4ª rodada de partilha. ‘O Brasil está se tornando mais importante na nossa estratégia e já é uma das nossas três áreas chave’, concluiu.”

Embora não tenha sido o principal destaque do leilão, a participação da Statoil é mais um movimento da entrada sistemática da empresa norueguesa nas licitações realizadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nas áreas offshore do Brasil. A Statoil já havia ingressado na 3a rodada do leilão de partilha na oferta vencedora no bloco situado no campo Norte de Carcará. Antes disso, a norueguesa já comprado da Petrobras 66% da participação do bloco BM-S-8 na Bacia de Santos. Essas ações somadas às aquisições da 15a rodada colocam-na numa posição relevante nas áreas de Peregrino, Roncador e Carcará.

Além da participação nas licitações, a Statoil já deu início à campanha de perfuração no campo de Carcará, localizado na Bacia de Santos, no último dia 17 de fevereiro. O teste de produção deve se estender ao longo de março e está prevista também a perfuração de um poço exploratório em Guanxuma.

A avaliação da Zag Consultoria é de que as reservas em Carcará sejam muito maiores do que a estimativa feita para venda, uma vez que os reservatórios se encontram acima de um vulcão antigo, cujas rochas fraturadas poderiam ter ainda mais óleo. Além disto, este seria um petróleo de excelente qualidade, diferenciando-se de outras acumulações do pré-sal.

Na E&P foi publicada uma notícia afirmando que este campo era o “Johan Sverdrup” brasileiro. Este é o nome de um dos cinco maiores campos de petróleo na Noruega, estimado em conter entre 2 e 3 bilhões de barris de petróleo recuperáveis na área. As estimativas para Carcará eram de 2 bilhões. Somente na exploração de Johan, 14 mil pessoas já foram contratadas para a fase 1 do projeto no mundo todo e este será um dos principais projetos industriais na Noruega, gerando receitas para o estado, emprego e renda.

Esta foi a primeira vez que a Statoil atuou como operadora em campanha no pré-sal. Esta primeira experiência tem duração prevista de três a cinco meses com possibilidade de extensão de afretamento em até um ano e meio.

Para esta primeira campanha, a sonda West Saturn foi contratada, vinda da Espanha. A empresa que está locando o navio-sonda é a Seadrill. Também norueguesa, a empresa atualmente opera em Londres com atividades físicas no Bahamas. Uma de suas subsidiárias foi acusada em 2015 pela Petrobrás de processos ilícitos na locação de uma sonda em 2005.

A importância desta notícia está ligada, primeiramente, ao uso do Brasil como plataforma para internacionalização das companhias Norueguesas, assunto que já foi tratado por Rodrigo Leão, pesquisador do INEEP,  na Carta Capital. A Statoil já figura como a terceira maior exploradora e produtora de petróleo no país. Enquanto estas empresas procuram investir no pré-sal e no pós-sal brasileiros, a Petrobras está se desfazendo de diversos ativos valiosos para sua carteira.

Em que pese o fato a atuação da Petrobras ter sido importante para o sucesso de arrecadação nos leilões e também ter sido a empresa que mais blocos arrematou, a estratégia de venda de ativos da estatal brasileira contrasta com sua postura de venda de ativos.

Na realidade, a empresa tem focado cada vez mais sua atuação somente nas áreas do pré-sal e, ainda assim, de forma associada, isto é, realizando parcerias com empresas estrangeiras. Isso se deve, em primeiro lugar, a uma visão equivocada de desintegrar a atuação da Petrobras abrindo de vários ativos lucrativos. Tais ativos são uma espécie de “amortecedores” para momentos em que a baixa de preço do petróleo prejudicam os resultados do E&P. E, em segundo lugar, a politica do governo federal de acelerar os leilões dificultando uma participação mais agressiva da Petrobras e, com efeito, abrindo espaço para a entrada de empresas estrangeiras como a Statoil.

Enquanto a Noruega investe, a Petrobras desinveste entregando ativos seus valiosos a partir de estimativas baixas de reservas e com preços não condizentes com o mercado patrocinado por uma política de abertura do setor e aceleração dos leilões. Para além disto, deixa-se de gerar renda para o estado e empregos para os nacionais a fim de favorecer empresas estrangeiras que estão visando nossa matéria-prima. Fica a necessidade de se repensar a estratégia brasileira em torno do setor energético, um setor importantíssimo para o desenvolvimento nacional.

[Via INEEP]