Laboratório da Repar: velhos problemas, mesmas enrolações

Os problemas e reivindicações dos trabalhadores do laboratório não são novidades para os gestores da Repar. Já ocorreram diversas reuniões para tratar da pauta local, porém na prática houve poucos avanços sobre as queixas apresentadas.

 Mesmo após a construção de um novo e moderno laboratório, de alto investimento, os problemas persistiram. O surgimento de odores – seja de solventes, de compostos sulfurados ou ainda de GLP – é uma situação recorrente nas áreas internas do setor. Muitas vezes os trabalhadores tiveram que evacuar o local para dissipar os odores e posteriormente retornar às atividades. Contudo, mesmo após diversas cobranças, os gestores da Repar, sobretudo de Saúde Ocupacional (SO) e Segurança Industrial (SI), não deram a devida atenção para sanar esses problemas.

O Sindicato já cobrou a solução via uma infinidade de ofícios, através de reuniões com a empresa e até mesmo durante a visita da Comissão Estadual do Benzeno (CEBz) em 2012. Um Grupo de Trabalho chegou a ser constituído a partir da insistência do Sindicato, mas nenhuma dessas intervenções foi capaz de fazer a empresa solucionar os problemas do setor.

Diversas denúncias chegaram ao Sindicato, mas uma específica chama bastante atenção por demonstrar o despreparo da empresa para lidar com o fato. Em meados de setembro do ano passado, uma técnica química de petróleo (TQP) passou mal após intoxicação por algum agente tóxico no laboratório durante manutenção de equipamento. A trabalhadora apresentou dor de cabeça aguda e enjoo. Quando houve nova incidência de odor de hidrocarboneto na sala, o técnico de segurança foi chamado e fez medição que apontou 3 ppm (partícula por milhão) de VOC no local. Pouco tempo depois, o técnico constatou que a emanação vinha do ralo abaixo do chuveiro lava olhos da sala. Nova medição foi realizada e apontou 200 ppm de VOC na boca do ralo. As aferições só começaram 30 minutos após a trabalhadora se sentir mal. Encaminhada ao setor de saúde, os sintomas se agravaram. Não podia manter os olhos abertos (fotofobia), as dores de cabeça pioraram e sofreu tonturas e náuseas. Foi medicada e após 40 minutos sentiu-se melhor e foi liberada para casa, com prescrição de medicamento e exame para verificar a exposição ao benzeno (trans-transmucônico).

Foram realizadas ações imediatas no laboratório, como a troca do sifão e orientação para deixar água corrente no ralo, bem como abertura de uma GM para adequação do sistema de ralo que permita o retorno de vapores tóxicos às áreas livres de exaustão. O Sindicato exigiu abertura de Comissão de Investigação de Acidente e abertura da CAT, mas a empresa negou. Na segunda reunião sobre o assunto, a médica do trabalho responsável pelo setor de Saúde Ocupacional da Repar declarou que o ocorrido não foi classificado como intoxicação e sim uma idiossincrasia -indisposição particular do organismo que faz que um indivíduo reaja de maneira pessoal à influência de agentes exteriores, como aromas fortes (como aquele enjoo que algumas pessoas têm a perfumes – inclusive essa foi a descrição utilizada). A médica também declarou desconhecer o relatório da ocorrência, que foi tratado como incidente com abertura de RTA, e as medições ambientais.

O exame trans-transmucônico acusou resultado menor que 0,05 mg/g de creatinina, não caracterizando exposição ao benzeno, segundo a empresa. Uma posição que pode ser tecnicamente questionada, porém que não justifica o fato de a médica ter ignorado a presença de hidrocarbonetos diversos, principalmente porque a primeira medição só foi realizada 30 minutos após a intoxicação.

Mesmo com as evidencias, a médica não recomendou nenhuma orientação de retorno para acompanhar o caso e a trabalhadora continuou com dores de cabeça nos dias seguintes. Para a SO o tratamento deste tipo de ocorrência não é padronizado pela Petrobras, ficando a critério médico.

Outros graves problemas puderam ser observados no tratamento do caso. A Higiene Ocupacional também não demonstrou interesse de investigar o caso, nem em outras denúncias feitas pelos trabalhadores.

O Sindipetro levou o tema à Comissão de SMS da FUP e Petrobras. O debate envolveu o caso especifico, com a abordagem generalizada sobre a forma de tratamento pela Higiene Ocupacional, Saúde Ocupacional e a Classificação de Acidente. A médica do trabalho que representou a empresa disse que vai entrar em contato com a REPAR para esclarecimentos e traria o retorno na próxima reunião. O Sindicato e a FUP exigiram que seja constituído um protocolo técnico para o tratamento das áreas de SMS.

O Sindipetro segue reivindicando que os casos de emanações tenham um tratamento adequado e mais transparência aos trabalhadores. Todos os casos com intoxicação devem ser classificados como acidente, com emissão de CAT, constituição de Comissão de Investigação e abertura de RTS, mesmo que não aja dano aparente à saúde.

Há muito tempo exige-se a presença de um TS especialista em questões de laboratório, visto o histórico de problemas ligados a SMS sem soluções, mas com essa politica redução de efetivo e custos o atendimento deste pleito parece estar cada vez mais distante. Para a empresa, a redução de custos está muito acima da saúde dos trabalhadores na lista de prioridades.

Meio TQP para turno!

Há cerca de um mês, a reunião de pauta local com a Repar abordou um problema quase generalizado de descumprimento de efetivo nos postos de trabalho do turno. Na ocasião o RH respondeu que a Repar não está autorizada para alterar o efetivo. O problema foi solucionado no momento, todos os setores voltaram a atender os efetivos já estabelecidos, porém a gestão do laboratório resolveu descumprir o acordo.

Nova reunião de Pauta Local Repar do Laboratório ocorrerá assim que gerentes voltarem de férias. Enquanto isso o RH responde que não estão aplicando nada diferente do acordado.

 Considerando os problemas denunciados pelos trabalhadores e trabalhadoras do setor, o Sindicato busca esclarecimentos da empresa sobre os seguintes pontos:

  1. Descumprimento do efetivo mínimo de turno do laboratório, hoje estabelecido em 4 Técnicos Químicos de Petróleo.
  2. Ausência de efetivo para o cumprimento do efetivo de turno, considerado sobrelotação, estabelecido em 5 Técnicos de Turnos de Petróleo. Solicita-se a respectiva reposição dos grupos de turno que estão sem efetivo de sobrelotação.
  3. Ausência de procedimento para atuação das equipes do laboratório, da Segurança Industrial e Saúde Ocupacional quando das ocorrências de emanação de produtos químicos nas áreas do laboratório.
  4. Previsão de prazo para solução das ocorrências.

Fonte: Sindipetro-PR/SC