Davos sob signo da crise


Como ocorre todos os anos, líderes das principais nações se encontraram em Davos (Suíça) para mais uma edição do Fórum Econômico Mundial, que historicamente debate caminhos para a economia sob a ótica do neoliberalismo e do conservadorismo dos países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos. Em anos anteriores, quando algum país terceiromundista ou emergente (termo mais simpático, mas que significa, na prática, exatamente a mesma coisa) enfrentava uma crise – México, em 1995, tigres asiáticos em 1997, Rússia e Brasil (1998) e, mais recentemente, a Argentina – era motivo de caudalosos sermões como pais raivosos fazem com filhos que gazeteiam aulas.

Nesta edição do FEM quem esteve sob mira foi a crise dos Estados Unidos. A tônica era tentar compreender as causas e, principalmente, a dimensão da crise que abala a bolsa de Nova Iorque.

Nenhum analista tem essa resposta; o banco central dos EUA baixou os juros para tentar acalmar os mercados, mas pouco adiantou. A mais poderosa nação do planeta, a maior poluidora mundial, um dos impérios mais sanguinários da história enfrenta uma crise profunda e não tem a mínima idéia de como sair do buraco. Os pitos tradicionalmente destinados a outros países não fazem eco nos ouvidos moucos de Bush e sua gangue.

 Blindagem brasileira

Para cada país, individualmente, a questão é como se proteger da dor de barriga do tio Sam. No caso do Brasil, um dos caminhos é incentivar cada vez no consumo interno, o fortalecimento de suas indústrias, em especial nas áreas estratégicas, como energia, desenvolver a agricultura familiar e promover uma profunda reforma agrária.

Com um mercado interno forte e as bases da economia fincadas, o Brasil passará pela crise do Império com danos mínimos. A histórica dependência aos mercados internacionais – aprofundada no período FHC e que deu origem à crise brasileira de 1998 – deve ser gradualmente substituída pela autonomia.

A atual recessão dos Estados Unidos não significa uma pá de cal no império, longe disso, mas também não é apenas um resfriado de verão; ela vem se esboçando há décadas, e, mais recentemente, se aprofundou com a crise do mercado imobiliário norte-americano, com os expressivos gastos de guerra do governo Bush e com a fragilidade energética estadunidense. Ingredientes que fazem ferver o caldeirão.

O Brasil deve aproveitar esse momento para blindar internamente sua economia e evitar efeitos nocivos na sociedade. O movimento sindical, por sua vez, não aceitará que, em nome de qualquer crise, venha a se propor a retirada de direitos dos trabalhadores, aumento do desemprego, dos juros e de outras medidas que sempre brilham nas cabeças dos conservadores.

O Fórum Social Mundial, que este ano tem manifestações espalhadas por mais de 70 países, aponta caminhos alternativos à dominação imperialista. Muitas das práticas e idéias apresentadas no FSM servem de inspiração para governos democráticos de esquerda na América Latina, ajudam esses países a se desenvolver de maneira mais autônoma e a enfrentar a crise estadunidense sem grandes abalos.