Nem tudo são flores no Porto de Suape-PE


Todo trabalhador sabe que a liberdade é fundamental ao exercício profissional. Dela depende o compromisso com a verdade, a contribuição de cada um no conjunto da sociedade, a gratificação como profissional e a garantia do direito constitucional de ir e vir. Qualquer ameaça, portanto, de sufocar, ameaçar ou limitar essa liberdade, parta de onde partir, configura-se uma ação contra o trabalhador de qualquer área. O silêncio, a indiferença, o descaso e ausência de ação ferem a ética  e as aspirações do trabalhador em qualquer circunstância. A CUT-PE chama atenção da sociedade civil organizada, dos movimentos sociais, da Mídia, dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário para os abusos e desrespeitos que estão acontecendo no Complexo Portuário de Suape. Nem tudo são flores nas atividades que norteiam os serviços da do Consórcio Terraplanagem da Refinaria Abreu e Lima.

 

Em fevereiro passado, quando realizamos uma fiscalização conjunta com os sindicatos dos Petroleiros, Gráficos, Metalúrgicos, Bebidas, Químicos e Construção Civil, foram feitas denúncias. Em momento algum fomos bem recebidos pela segurança interna do Complexo Portuário que, ao lado do representante do Sindicato dos Trabalhadores da Pavimentação (Sintpac) ligado à classe patronal nos pressionou e intimidou. Ficamos indignados diante da pressão feita por aqueles que agem contra os interesses da categoria em atividade no Consórcio Terraplanagem. 

 

Em março fizemos nova denúncia, no que diz respeito ao não cumprimento do termo de compromisso de ajustamento de conduta, assinado em dezembro de 2007, entre a Procuradoria Regional do Trabalho e o Complexo Portuário de Cape. As obras de recupera­ção do píer PGL-1 do Complexo de Cape não estão seguindo o cronograma acordado. Além disso, as substituições dos ganchos de amarração dos navios (gatos), testes e o isolamento das áreas onde se localizam as cordas de amarrações para evitar o acesso de pessoas não foram efetuados. Existe no documento uma multa de R$ 500 mil pelo não cumprimento das cláusulas ajustadas (até o dia 28/02/03), sendo reversível ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

 

Na verdade, o Consórcio impõe regras que ferem a dignidade dos profissionais que ali estão ganhando o pão de cada dia. Para os operários faltam condições de trabalho dignas, respeito profissional e liberdade. Muitos deles já foram demitidos por exigir, reclamar, reivindicar direitos, quando a regra do jogo é cobrar deveres. É a lei do mais forte, do opressor.  Onde está a fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho (DRT-PE)? Onde está a Procuradoria do Ministério Público do Trabalho? Todos assistem calados a esse espetáculo, onde o poder econômico manda de forma descabida. Acordo é para ser cumprido, ou melhor, respeitado. Não somos contra o desenvolvimento, nem o crescimento econômico do Complexo Portuário de Suape, em hipótese alguma. No entanto, não podemos calar ou mesmo fechar os olhos diante das irregularidades que estão acontecendo. Agora, são 1.500 operários demitidos e estratégia do Consórcio de ficar apenas com 400 pessoas na obra como “reserva de mão-de-obra” é uma hipocrisia.

 

É inaceitável que em pleno século XXI, trabalhadores continuem sendo explorados, demitidos de forma arbitrária por um regime capitalista selvagem, frio e calculista, onde a principal “felicidade” é ter e não ser. Onde os asseclas desses mesmos patrões agem com o chicote na mão, impõem regras, intimidam, mas não ganham respeito de seus subordinados. Apenas medo.  É lamentável que chefes e apadrinhados dos “donos do mundo” querem ser chamados de “doutores”, quando não passam de simples bacharéis, pseudos lideranças condicionadas e treinadas  a praticarem o que é de ruim contra os trabalhadores. Será que essa gente tem humildade suficiente para abraçar sua família na volta para casa? Será que essa gente pode dormir o sono dos justos? 

 

Como bem disse Gibram Khalil: “Como posso perder minha fé na justiça da vida, quando os sonhos dos que dormem num colchão de penas não são mais belos do que dormem  no chão”. Eles sim terão noites mal dormidas, pesadelos, insônias e depressões. A noite é a luta, o dia o futuro de todas as almas e a madrugada é sua esperança e seu arauto, anunciando o final das agonias. Se, hoje, sombras compactas teimam em envolver o céu da existência, não posso deixar de acreditar na beleza do sol, vencendo  à noite  mansamente  nas malhas da madrugada. A luta continua… firme e forte!  

 

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça, porque serão  fartos”.