Trabalhar menos para gerar mais empregos dignos e de qualidade


O tempo de trabalho neste século é o mais longo da história. A despeito do avanço tecnológico, da modernidade, dos ganhos de produtividade, nunca se trabalhou tanto. Em todo o mundo assistimos cargas diárias de 16, 18 horas.

Além de jornadas excessivas temos a intensificação do ritmo de trabalho, uma vez que o trabalho encontra-se subordinado a capacidade operacional das máquinas, são elas que determinam o ritmo e o número de horas de trabalho.

Paradoxalmente, enquanto as novas tecnologias permitem que diferentes setores produtivos se modernizem e estabeleçam jornadas de trabalho menores, por outro lado, determinados setores econômicos seguem com jornadas e condições de trabalho aos moldes do século XVIII.

Dentro do próprio ramo químico existe este paradoxo, enquanto parte dos trabalhadores tem jornada menores como de 36 horas, a grande maioria ainda trabalha 44 horas ou mais por semana.

 

Jornada de trabalho no Brasil

 

No Brasil houve duas mudanças na redução da jornada de trabalho ao longo de sua história, uma na constituição de 1934 e outra na de 1988. Na última, a jornada de trabalho passou de 48 para 44 horas semanais. Esta redução foi uma conquista dos movimentos sindicais que tiveram uma participação atuante nos debates em torno da constituição de 1988. Já em 1985 várias categorias realizavam manifestação e greve pela redução da jornada para 40 horas semanais, entre elas os químicos.

A luta pela redução da jornada de trabalho é antiga, porém, em cada época ela surge com objetivos diferentes. Atualmente a luta pela redução da jornada de trabalho tem como objetivos gerar mais postos de trabalho, assim como a melhoria da qualidade de vida do trabalhador na forma de mais horas livres para lazer e educação.

Neste cenário de crescimento econômico e elevados ganhos de produtividade à luta por uma jornada de trabalho menor ganha força uma vez que é justo que os trabalhadores e as trabalhadoras possam repartir estes ganhos de produtividade com o capital, seja na forma de aumentos reais de salário e de redução da jornada de trabalho.

Além disso, os estudos indicam que a redução da jornada de trabalho das atuais 44 horas para 40 horas semanais representaria uma geração de 2,8 milhões de novos postos de trabalho. Todos se beneficiam com uma jornada menor, o desemprego reduz, a renda aumenta, as pessoas têm mais poder de consumo, as empresas ampliam seus investimentos, é um circulo virtuoso para a economia brasileira. Homens e mulheres passam a ter mais acesso a educação e ao lazer, reduz a fome, a miséria e a violência, e cresce as oportunidades.

No entanto, é necessário que juntamente com a redução da jornada se criem mecanismos que proíbam o uso de horas extras, o grande vilão e que se ampliem os investimentos em tecnologia e qualificação profissional como condicionantes para a garantia de competitividade de nossos produtos no mercado, uma vez que esta é a principal justificativa do setor empresarial para se posicionar contra a redução da jornada de trabalho.

O custo da mão-obra no Brasil, por hora, é um dos mais baixos do mundo, cerca de US$ 3, enquanto que nos Estados Unidos é de US$ 20, e na França, US$ 15. Portanto o argumento de que a redução contribuiria para a perda de competitividade cai por terra, uma vez que as grandes economias mundiais preservam sua competitividade elevada a despeito de remunerarem bem seus trabalhadores e trabalhadoras.

Portanto, não podemos nos omitir nesta luta, os benefícios de uma jornada menor se estenderão para todos os trabalhadores e trabalhadoras. Além disso, estaremos contribuindo para construir uma sociedade melhor.