Deyvid mostra que ainda é possível transformar o presente e preservar as lutas históricas | Resposta ao artigo do RonaldoTedesco

Um dos mais importantes historiadores do século XX, Eric Hobsbawn, ao refletir sobre as atuais transformações na compreensão da sociedade cunhou a seguinte frase: “Vivemos hoje novas formas de vida, novos regimes precisam criar identidades que se adaptem a eles. Daí que é comum (…) que meios de comunicação inventarem um passado. Como dizia George Orwell, estamos em uma idade em que o presente controla o passado. Altera-se a História para servir aos interesses de alguns poucos grupos”.

Essa prática se identifica em diversos ambientes das esferas políticas e sociais, desde grupos reacionários até aqueles ligados à extrema esquerda. A transformação dos fatos históricos em factoides presentes consiste numa das atuais estratégias utilizadas para descaracterizar trajetórias e lutas que perduram longos anos. Enganam-se aqueles que consideram tal artifício como um recurso utilizado exclusivamente por grupos de interesses de maior poder econômico e financeiro, como a mídia. Na verdade, ele é empregado em todo campo da luta política, um dos mais fáceis instrumentos de subversão e/ou inversão da realidade. Pouco importa caso se transforme num exercício de má fé ou de ludibriar uma luta histórica, como disse Hobsbawn, o objetivo é utilizar História para servir ao seu interesse.

É exatamente nesse cenário que se enquadra a recente coluna de Ronaldo Tedesco, no site da Associação dos Engenheiros da Petrobras. Num claro exercício de má fé e de inversão de fatos, busca desconstruir, a partir da criação de factoides, toda uma trajetória de luta programática do atual conselheiro e sindicalista da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar. O debate proposto pelo colunista em nenhum momento se situa no campo das ideias e/ou do conteúdo programático, mas nos mantras como “postura pró-governo” e “compromissos da FUP com o atual governo não permitem que seu representante tenha uma atuação mais incisiva”. Mais grave do que isso, é a desqualificação do atual mandato pela transformação dos fatos históricos, utilizando-se de argumentos falaciosos como “o programa de Deyvid não vai além das palavras de ordem contra a privatização”. Diferentemente do que é feito aqui, em nenhum momento, o colunista utiliza fatos concretos e/ou argumentos efetivamente utilizados pelo atual conselheiro, a despeito de toda a divulgação existente, seja no blog (deyvidbacelar.com.br), seja nos mais jornais espalhados pelo país. Torna-se clara que a inversão da realidade proposta pelo colunista Tedesco visa transformar a história para a defesa do voto nulo. Seria mais digno ou honesto, reconhecer os fatos históricos e situar o debate no campo ideológico. Talvez isso não ocorra, porque o colunista não apresente diferenças contundentes com o conteúdo programático do atual conselheiro, mas precisa, simplesmente, defender o voto nulo.

A ausência de citações, evidências contundentes de Tedesco, apenas confunde toda a classe trabalhadora e tenta colocar no mesmo patamar duas candidaturas de origens e princípios complementamente distintos. Qualquer militante e/ou intelectual sério deve lembrar que a criação de um assento para os trabalhadores foi uma luta dos movimento sindical capitaneada pelo ex-presidente Lula. O jornal Folha de São Paulo de 2006 resgata o princípio da medida adotada pelo ex-presidente: “o governo assegurará aos trabalhadores assento nos conselhos de administração das estatais federais. Um decreto deverá ser editado criando as vagas”. O próprio ex-presidente relembrou da luta sindical para a conquista de tal medida: “é uma reivindicação antiga dos dirigentes sindicais brasileiros e já deveria ter sido adotada há muito tempo”. Portanto, sabe-se que a criação das vagas para os trabalhadores no Conselho é uma luta histórica do movimento sindical a fim de permitir ao chão de fábrica o acesso às informações estratégicas das companhias e proporcionar um olhar diferenciado aos respectivos Conselhos. No entanto, valendo-se da miopia política, o atual colunista da Aepet ignora a importância dessa luta e do seu valor para todo o movimento sindical, bem como prefere igualar uma candidatura da classe trabalhadora com outra claramente vinculada aos interesses de uma fração minoritária dos trabalhadores, inclusive próxima aos cargos gerenciais.

Mas, a transformação dos fatos históricos não se encerra nesse aspecto. A afirmação, sem nenhuma comprovação, que o atual conselheiro apenas lança palavras de ordem e está comprometido com o atual governo atesta o exercício de criação de factoides e de má fé do colunista. Uma rápida busca no blog do conselheiro evidencia tanto suas articulações sociais e políticas, como suas votações em favor da preservação do caráter integrado da empresa, ou seja, sua posição absolutamente contrária à venda de ativos. No post do dia 29 de outubro de 2015, por exemplo, intitulado “PROCESSO DE FRAGMENTAÇÃO DA PETROBRÁS X A LUTA E PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES” o conselheiro reafirma sua posição (e votação) contrária à venda da Gaspetro, bem como sinaliza que a FUP entraria com uma ação civil pública para barrar a venda. No dia 17 de janeiro de 2016, o conselheiro evidencia que iria discutir dentro do Comitê Estratégico do Conselho – vaga conquistada pelo seu mandato, inclusive – a desmobilização dos desinvestimentos realizadas pela Companhia, reforçando seu posicionamento contrário à venda de ativos. Além disso, em 08 de janeiro de 2016, o blog destaca a participação do conselheiro em audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, quando levantou uma série de problemas em relação à venda de ativos da Petrobras. Nesse caso, fica a dúvida se Tedesco simplesmente procura inverter os fatos ou se suas afirmações são fruto de puro desconhecimento.

Como se observa a construção de uma candidatura e de um conteúdo programático para uma eleição ocorre por meio de uma perspectiva ideológica, de debates coletivos e de um plano de ação. Foi essa a abordagem do atual conselheiro desde o seu primeiro mandato, sem a criação de factoides e/ou debates vazios. Quando não se age assim, o que resta é a transformação da História.