FUP e movimentos sociais denunciam multinacionais no Conselho da Petrobrás

Em ato público nesta quinta-feira, 26, no Centro do Rio de Janeiro, a FUP e seus sindicatos, junto com diversos movimentos sociais que integram as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo protestaram contra a nomeação para o Conselho de Administração da Petrobras de ex-executivos de multinacionais que concorrem com a empresa. Entre os indicados pelo governo Temer para o principal órgão decisório da companhia está o ex-diretor da Shell, José Alberto de Paula Torres, que já foi presidente e vice-presidente de várias subsidiárias da petroleira anglo-holandesa, onde trabalhou por 27 anos.

[Foto Nathália Gregory]

Os golpistas também indicaram para o Conselho de Administração da Petrobrás Ana Lúcia Poças Zambelli, que até o ano passado era vice-presidente sênior da Maersk Drilling, além de ter comandado a Schlumberger e a Transocean no Brasil. Essas três empresas têm contratos estratégicos com a estatal brasileira em áreas de processamento sísmico, prospecção, perfuração, manutenção de poços e fornecimento de porta-contentores e navios, o que configura conflito de interesses.

Temer colocou ainda no CA da Petrobrás a atual diretora do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Clarissa de Araújo Lins, que também já passou pela diretoria da Shell. O IBP é a entidade que representa os interesses das empresas do setor de óleo e gás, que concorrem diretamente com a estatal brasileira. Ou seja, mais uma evidência de conflitos de interesses.

“Como o governo pode indicar para o Conselho da Petrobrás representantes de empresas concorrentes? Na prática, é como se colocassem o Eurico Miranda, que já foi presidente do Vasco, para ser presidente do Flamengo”, explicou o coordenador da FUP, José Maria Rangel, lembrando que uma das primeiras visitas que Michel Temer recebeu após o golpe foi o presidente da Shell e, logo em seguida, a Petrobrás firmou parcerias estratégicas com a multinacional holandesa.

Luta pela soberania

“Eu não sou otário, nosso petróleo não vai ser de empresário”, avisaram os manifestantes em frente à sede da Petrobrás, onde os acionistas da empresa chegavam para a Assembleia Geral que irá eleger os novos conselheiros da estatal. Cerca de mil pessoas participaram do ato, que teve início às 11h, na Avenida Rio Branco, de onde os manifestantes saíram em passeata até o prédio da petrolífera, na Avenida Chile.

Com seus jalecos laranjas, os petroleiros carregavam faixas e cartazes em defesa do Sistema Petrobrás. Eles chegaram cedo, em caravanas vindas de outros estados, como Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, além de municípios do Rio de Janeiro com bases da FUP, como Macaé, Campos e Duque de Caxias. Também participaram do ato metalúrgicos, eletricitários, bancários, professores, servidores públicos, além de estudantes, trabalhadores rurais, parlamentares e diversas representações de movimentos sociais, como MAB, MPA, MST, CUT, CTB, UNE, UBES, Levante da Juventude, entre outras organizações que integram as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

As falas denunciaram o desmonte que o golpe impôs ao país, como a retirada de direitos da classe trabalhadora, a destruição da indústria nacional, o desemprego em massa, o aumento da pobreza, a volta da fome, os ataques aos serviços públicos e as privatizações. As lideranças sociais destacaram que a entrega do Pré-Sal e do setor energético, através das privatizações nos Sistemas Petrobrás e Eletrobrás, foi um dos motivos do golpe. “A soberania é hoje a pauta principal da classe trabalhadora. Só com soberania, vamos voltar a ter emprego, desenvolvimento, educação e acesso aos bens energéticos”, afirmou Leonardo Maggi, da Coordenação da Plataforma Operária e Camponesa para a Energia, criticando os preços exorbitantes do gás de cozinha, dos combustíveis e da luz elétrica. “E vai piorar ainda mais, se não retomarmos a soberania sobre os recursos energéticos”, alertou.

Lula livre

Durante o ato, os manifestantes também cobraram liberdade para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A luta pela libertação de Lula é o primeiro passo para a retomada da democracia, para defendermos a soberania nacional e os direitos dos trabalhadores”, afirmou o senador Lindbergh Farias (PT/RJ).

“Lula está preso não é por conta de um triplex, cuja farsa foi desmontada naquela ocupação do MTST. Ele está preso pelo que fez pelo país. Se não fosse o governo Lula, a Petrobrás não teria sequer descoberto o pré-sal, que hoje representa mais de 50% da produção nacional”, afirmou o coordenador da FUP.

Ele ressaltou a necessidade de se politizar a sociedade brasileira para o que de fato está acontecendo com o Brasil e a Petrobrás, desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “Esse ano de 2018 será decisivo. Se os trabalhadores entenderem que têm que ser como eles (os golpistas) querem que a gente seja, pessoas apolíticas, nós estamos perdidos, pois não tem espaço vazio em política. Se a gente não ocupa, um lado da direita vem e ocupa”, destacou José Maria Rangel, afirmando que quem defende os trabalhadores não pode compactuar com o golpe e a prisão arbitrária de Lula.

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[Texto e edição FUP / Fotos FUP e Nathália Gregory]