Após jejum de oito dias, manifestantes pedem audiência com ministros do STF

Os militantes de organizações do campo e da cidade que estão em greve de fome pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva irão ao  Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (7) para protocolar 11 pedidos de audiência com os ministros que compõem a mais alta Corte. Eles querem que o Tribunal coloque em votação duas ações declaratórias de constitucionalidade (ADC) que questionam a possibilidade de prisão, após condenação em segunda instância.

O protesto extremo, que chega no seu oitavo dia nesta terça-feira (7), ganhou a adesão do militante do Levante Popular da Juventude Leonardo Armando. Com ele, agora são sete os manifestantes em greve de fome. O estado de saúde dos seis primeiros, que resistem sem ingerir nenhum alimento, apenas tomando água e soro, chama a atenção das equipes de saúde, o que aumenta a pressão sobre as autoridades para o atendimento da pauta dos grevistas. 

“A perda de direitos em saúde e educação públicas, o aumento dos preços da comida, do gás e dos combustíveis, o aumento da violência sobre as populações negra, LGBT e de mulheres, bem como a volta da miséria e da fome nos move a fazer este ato extremo”, afirmou o frei Sérgio Görgen, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Nesta terça-feira, uma comissão de senadores e uma comitiva de indígenas do povo Guarani também devem se encontrar com os militantes para prestarem apoio e solidariedade. 

Alojados no Centro Cultural de Brasília (CCB), os ativistas receberam nesta segunda (6) a visita do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS). Eles também se encontraram com com participantes da Caravana Semiárido contra a Fome, que percorreu mais de 4 mil quilômetros cruzando o país para alertarem sobre a urgência de uma política de combate à pobreza no país. 

Jaime Amorim: greve de fome em nome da esperança

Com 58 anos, quatro filhos e um neto, Jaime Amorim é integrante da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e representante da América do Sul na Coordenação Internacional da Via Campesina. 

O início de sua militância começou em 1979, quando ingressou em uma comunidade eclesial de base e passou a integrar a Pastoral da Juventude em Guaramirim (SC). Se formou em Pedagogia e sem abandonar o trabalho na roça, passou a integrar a Comissão Pastoral da Terra. Em 1985, participou do primeiro Congresso do MST. 

“Eu fui ministro da eucaristia, ministro da palavra. Fui também catequista. Minha base política, familiar, de trabalho, foi formada nessa comunidade. Eu fui coordenador da Pastoral da Terra em Joinville. Continuava a trabalhar na roça, mas tinha essa tarefa. Com o Congresso [do Movimento], a gente assumiu a tarefa de construir o MST no norte de Santa Catarina”, relembra. 

Em meados de 87, deixa o sul do país com a tarefa de construir o MST no nordeste do Brasil, passando por diversos estados: Bahia, Alagoas, Sergipe, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. A partir de 1992, se fixa em Pernambuco, estado no qual a primeira ocupação do movimento ocorreu em 1989, com a participação de Amorim. 

Além de denunciar a situação do país – como a volta da fome e da pobreza -, a greve de fome da qual participa o líder sem terra tem como um de seus pontos a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva. A disposição de Amorim em aderir ao protesto não significa um abandono de uma análise crítica dos governos petistas. 

Nos anos 2000, Amorim escreveu “Da Esperança à Frustração” como parte de uma pós-graduação na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nela, expõe os limites da atuação petista, apontando como os governos “neodesenvolvimentistas”, marcados pela inclusão social e melhoria das condições de vida, não foram acompanhados de organização popular e disputa das consciências. 

Agora, Amorim pensa que é possível ir da frustração a uma nova esperança, ou seja, que um próximo governo de Lula – enquanto “instituição e aquilo que representa para o povo brasileiro” – possa enfrentar as razões estruturais de nossa sociedade. 

“Nós sofremos um processo de frustração, sofremos o golpe [de 2016] e passamos a reconhecer que parte daquela política era importante para os trabalhadores e agora é a nova esperança, que ele possa revogar tudo que foi feito durante o golpe e fazer tudo aquilo que não foi feito”, defende. 

É essa esperança renovada que embasa a opção e desprendimento de Amorim em aderir à greve de fome por Justiça no STF.

“Quem tá na militância pode dizer: não temos muito tempo para ter medo. Do ponto de vista pessoal, estou muito seguro. Se for preciso, a gente coloca a vida em disposição. Se eu não voltar, não tem problema. A gente cumpriu uma tarefa. Quem tá na militância pode dizer: não temos muito tempo para ter medo”, diz. 

[Via Rede Brasil Atual e Brasil de Fato]