Acidentes e mortes no rastro do sucateamento da Petrobrás

 

Os trabalhadores do Sistema Petrobrás estão à beira de uma grande tragédia anunciada. Só nos últimos quatro meses, duas refinarias passaram por explosão e incêndio, um trabalhador sofreu graves queimaduras por ácido sulfúrico e outro perdeu a vida ao operar um guindaste que estava condenado há mais de duas décadas. Em reunião nesta quinta-feira, 06, com a Gerência de Saúde e Segurança da Petrobrás (SMS), a FUP responsabilizou a gestão da empresa pela insegurança que coloca diariamente em risco os trabalhadores.

Os petroleiros compareceram à reunião vestidos de preto e fizeram um minuto de silêncio, em luto pela morte de Sandro Ferreira da Silva, 43 anos, trabalhador experiente da Bacia de Campos, que perdeu a vida em um acidente no dia 26 de novembro, na plataforma PNA-2. Sandro foi esmagado por um guindaste que sequer deveria estar em atividade, pois desde a década de 90 tinha orientações da inspeção de equipamentos para que fosse substituído.

Não é de hoje que a FUP vem alertando para os riscos de um grande acidente industrial nas unidades da Petrobrás, principalmente após o sucateamento gerado pela atual economia de custos imposta pelos gestores, com cortes de investimentos em manutenção e redução drástica dos efetivos de trabalhadores.

O vazamento de ácido sulfúrico dia 06 de agosto na Regap (MG), a explosão na Replan (SP) em 20 de agosto e o incêndio esta semana (04/12) na Refinaria Abreu e Lima (PE) foram acidentes com altíssimo potencial de danos, que poderiam ter vitimado dezenas de trabalhadores. A FUP reiterou que essas e outras graves ocorrências que tornaram-se rotina no Sistema Petrobrás estão diretamente relacionados a falhas de gestão.

Reunião, após reunião com a empresa, os petroleiros têm alertado para as consequências da redução de investimentos nas unidades industriais. As paradas de manutenção, por exemplo, estão sendo feitas com menos dias de duração do que o necessário e cortes acentuados de custos, que potencializam os riscos de acidentes graves. A redução drástica de efetivos desmantelou as equipes de SMS que atuavam nas fiscalizações de contratos, impactando as inspeções de segurança em diversas unidades. Os efetivos de técnicos de segurança, que já eram enxutos, foram reduzidos à metade em várias regiões.

A FUP tornou a criticar o Sistema de Consequências, que só serve para punir o trabalhador, blindando a gestão da responsabilidade pelo descumprimento de normas e regulamentos de segurança, pela subnotificação de acidentes e pela negligência com as condições de trabalho e manutenção.   “Além de serem vítimas potenciais de acidentes, os trabalhadores ainda são punidos por uma ferramenta que serve à gestão para qualquer outra coisa, menos prevenir acidentes”, afirmou o diretor da FUP, Alexandro Guilherme Jorge, o Alex.

“Nunca participei de uma comissão de acidente que buscasse prevenir novos acidentes. A intenção dos gestores é sempre tentar culpar o trabalhador”, ressaltou Rosângela Maria, que divide com Alex a Secretaria de SMS da FUP. “A proposta da Petrobrás de atrelar sua política de remuneração variável ao Sistema de Consequências é muito preocupante, pois irá aumentar a subnotificação de acidentes. Isso é inadmissível”, criticou a dirigente sindical.

Ela cobrou dos gestores rapidez nas respostas aos questionamentos feitos e às denúncias apresentadas, ressaltando que as pressões e insegurança que atingem os trabalhadores estão aumentando os casos de depressão e ansiedade.  “A gestão precisa ter um olhar mais específico no afastamento gerado por doenças mentais, depressão e ansiedade. O desmonte da empresa e o descaso da política de SMS estão matando o trabalhador aos poucos, atingindo também sua família”, declarou Rosângela. “Esperamos que a gestão de SMS se atente para tudo isso e que a direção da Petrobrás passe de fato a priorizar a segurança com o principal valor da empresa”, afirmou.

[FUP]