Para MAB, execução da líder dos atingidos no Pará está ligada à luta por direitos

 

Na última sexta-feira (22), a coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Pará, Dilma Ferreira Silva, 47 anos, foi assassinada em sua casa, no assentamento Salvador Allende, zona rural de Baião. Além dela, foram mortos seu marido, Claudionor Costa da Silva, 42 anos, e Hilton Lopes, 38 anos, um amigo do casal.

Para a direção nacional do MAB, o assassinato pode estar relacionado à luta que a militante travava em defesa dos direitos dos atingidos pela hidrelétrica de Tucuruí, no Pará.

Construída durante a ditadura militar, a usina é a terceira maior do país, atrás apenas das hidrelétricas Itaipu, no Paraná, e Belo Monte, também no Pará. Cerca de 32 mil pessoas foram deslocadas de suas moradias para construção da barragem e, há mais de 30 anos, os atingidos  lutam para garantir seus direitos. Dilma era uma destas pessoas.

Em 2011, ela participou de uma audiência com a então presidenta Dilma Rousseff (PT) e entregou um documento em que cobrava uma política nacional de direitos para os atingidos por barragens, com atenção especial par as mulheres atingidas.

Em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, os membros da coordenação nacional do MAB, Iuri Charles Bezerra, e Gilberto Cervinski, contaram, com base no depoimento de algumas testemunhas da região, que o crime teria sido executado por cerca de cinco a seis pessoas, na noite da quinta (21) para sexta. Dilma, Claudionor e Hilton podem ter sido amarrados, amordaçados e esfaqueados, pelas condições de seus corpos. A liderança teria sido a última a morrer com um corte na garganta. Vizinhos relatam ainda que na noite do assassinato um som muito alto vinha da residência do casal.

Há também suspeitas de que uma outra casa, localizada a 20 quilômetros da residência de Dilma, teria sido incendiada e corpos de três pessoas teriam sido carbonizados. Ainda não se sabe a veracidade do crime e se existe uma suposta relação com o triplo homicídio.

“A gente está pedindo explicação para isso, tem relação? De que se trata esses acontecidos? Porque não é uma motivação comum que leva ao assassinato de uma liderança conhecida e que tem história na região”, ressalta Bezerra. O movimento está buscando uma reunião com o secretário de Segurança Pública do Pará para pedir providências e punição aos culpados.

Citando o assassinato de Dilma como um “típico exemplo de onde o Estado foi retirado”, Cervinski analisa haver atualmente um ambiente de incentivo à violência e à perseguição de lideranças populares. “Nós do MAB já sofremos esse ano várias perdas. Foi o caso de Brumadinho (Minas Gerais), mais essa perda da Dilma que é a perda de uma mulher, que era da liderança. Ela já havia sido vítima da violência com a hidrelétrica, de negarem os seus direitos, e agora ela sofre novamente uma violência que é seu assassinato”, afirma.

[Com informações do MAB e da Rede Brasil Atual]