Medidas da Petrobrás agravam problemas de saúde mental entre petroleiros

 

A mistura explosiva de redução de salários, desembarques, pressão para adesão a um programa de desligamento da empresa e o risco de contaminação por coronavírus está atingindo a saúde psicológica dos petroleiros. O número de denúncias recebidas pelo Sindipetro-NF (Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense) sobre problemas de ambiência e estresse no local de trabalho tem aumentado muito neste período.

“O trabalho offshore, que já é estressante por natureza, há anos tem como segunda maior causa de afastamento na empresa a saúde mental. Agora temos visto um aumento nas denúncias. Antes recebíamos uma média de uma denúncia por mês nesta área, agora a média é uma a cada dois dias”, explica o coordenador de comunicação do sindicato, Rafael Crespo.

Sinal amarelo

Neste final de semana, um alerta foi dado por meio de um caso grave na plataforma P-50. No domingo (19), a entidade recebeu denúncia de que houve um surto psicótico de um petroleiro à bordo da unidade. No dia seguinte o petroleiro foi desembarcado.

“Com as mudanças que a empresa tem feito, reduzindo salários, estendendo jornadas e não se preocupando com a disseminação de covid nas unidades, tem aumentado o estresse a bordo, fazendo com que casos como o da P-50 venham a se tornar rotineiros”, afirma Crespo.

Outro aspecto é lembrado pelo coordenador geral do sindicato, Tezeu Bezerra, que afirma que a situação é agravada pela redução de pessoal, o que também compromete a segurança. A P-50, aonde são necessários quatro técnicos de segurança, chegou a ficar com apenas um nos últimos dias.

Pelo menos cinco petroleiros desembarcaram da mesma plataforma nas últimas semanas com crises psicológicas. O clima entre os trabalhadores também é de apreensão em razão dos casos de suspeita de coronavírus entre colegas. Três trabalhadores da unidade estão em isolamento.

“A Petrobrás, de forma unilateral, desimplantou centenas de trabalhadores, que significa retirá-los das plataformas e colocá-los em regime administrativo. Isso produz uma redução brutal no salário, o que está abalando financeiramente e psicologicamente estes trabalhadores. Muitos chegam a esconder que estão com sintomas para não passarem por isso”, relata Bezerra.

O sindicato tem denunciado que falta transparência à Petrobrás na comunicação sobre suspeitas de contaminação por coronavírus, e falta diálogo com as entidades representativas dos trabalhadores sobre as medidas tomadas durante a pandemia. De acordo com o Sindipetro-NF, desembarques, reduções salariais e mudanças na carga horária de trabalho foram feitas pela gestão da companhia sem negociação com os sindicatos.

 [Via Sindipetro-NF]