As 100 mil mortes por covid-19 no Brasil e a urgência de um plano emergencial

No começo de agosto, 100 mil óbitos por covid-19 confirmados no Brasil.

Nada foi capaz de evitar a confirmação desta tragédia. Nem a baixa testagem, provocada pelo governo Bolsonaro; nem todas as ações de esvaziamento do Sistema Único de Saúde (SUS), que estão em curso desde quando começou o governo Bolsonaro –  com manutenção do congelamento dos recursos por 20 anos, com a destruição do Mais Médicos, com as mudanças do financiamento da atenção primária em saúde.

Nem a baixa execução dos recursos adicionados ao orçamento do Ministério da Saúde neste ano pelo Congresso Nacional, não atingindo nem metade da sua execução; nem a tentativa do Ministério da Saúde de esconder os dados da covid-19 no seu portal.

Nem tudo isso que Bolsonaro tentou fazer para esconder o avanço da covid-19 do povo brasileiro e do mundo, conseguiu impedir esta marca de 100 mil óbitos confirmados.

Certamente já chegamos a este patamar há muito mais tempo. É que a baixa notificação, o desmonte das ações de vigilância, a baixa testagem, a falta de transparência nos dados de síndrome respiratória aguda grave fizeram com que a gente atingisse esta marca agora na primeira semana de agosto.

O mais incrível é que a ciência e diversas projeções, inclusive da própria equipe técnica do Ministério da Saúde, apontavam para este cenário, que Bolsonaro busca esconder e negar desde o começo da pandemia no Brasil. O apontado é de que atingiríamos esta marca de 100 óbitos confirmados na primeira semana de agosto.

Frente em Defesa da Vida

Foi lançada esta semana, por um conjunto de entidades da sociedade civil, a Frente em Defesa da Vida, que tem uma proposta de um plano emergencial para superarmos este momento trágico, tentarmos reduzir esta caminhada de óbitos e buscarmos reorganizar o SUS para enfrentar não só a pandemia, mas todos os problemas de saúde advindos dela.

Este plano defende que só a sociedade civil organizada juntamente com o Congresso Nacional, com os gestores estaduais e municipais que têm o compromisso com o Sistema Único de Saúde, será possível constituir uma verdadeira autoridade sanitária com capacidade política de buscar corrigir os rumos do enfrentamento à pandemia e darmos um passo de fortalecimento do SUS.

Foi essa pressão da sociedade civil, articulada pela sucessão da Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros (Apib) e pelos partidos políticos de oposição, que ao entrarem no Supremo Tribunal Federal (STF) essa semana, conseguiram uma das principais vitórias neste momento que é a proteção aos povos indígenas. A decisão da Suprema Corte obriga o governo federal a constituir um plano de proteção aos povos indígenas neste momento da pandemia da covid-19.

Que a marca dos 100 mil óbitos sirva também para constituirmos uma marca de uma autoridade sanitária da sociedade civil e dos atores políticos do judiciário para tentar frear o projeto genocida de Bolsonaro, quem sobre a marca de 100 mil óbitos, a única frase que têm a dizer é: “vamos tocar a vida”.

Por Alexandre Padilha, médico e ex-ministro de Saúde, em artigo publicado no jornal Brasil de Fato \ Foto: Reuters