Replan continua operando com menos trabalhadores que o indicado

Descumprindo o próprio estudo, a refinaria assume sérios riscos ao atuar com número de efetivo abaixo do recomendável 

[Da imprensa do Sindipetro Unificado SP | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil]

Reclamação recorrente por parte dos operadores de diversas unidades da Petrobrás, desde aproximadamente o ano de 2018, as refinarias do sistema vêm atuando com um número de trabalhadores abaixo da quantidade mínima considerada segura para evitar acidentes.

Nos últimos meses, na Refinaria de Paulínia (Replan), a principal reclamação é de que o supervisor – que em tese deveria ser o responsável por supervisionar o grupo de operadores atuando em um setor específico – vem ocupando dupla função para preencher a lacuna que surge com a falta de um quadro efetivo, ou seja, pela unidade operar com menos funcionários do que o necessário.

Essa prática descumpre com o próprio estudo de Organização e Métodos de Trabalho (O&M) desenvolvido pela Replan, que estipula uma quantidade mínima necessária de trabalhadores operando para que a segurança da refinaria seja garantida. Tal número definido no projeto foi, inclusive, questionado pelo Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), que havia estabelecido, previamente, uma quantidade maior de atuantes.

“Ela [Replan] descumpre o próprio estudo, que para nós tinha que ser maior ainda, e quando se opera abaixo dessa quantidade mínima de trabalhadores, as respostas às situações de emergência ficam comprometidas porque tem menos pessoas pra controlar a situação”, explicou o dirigente do Sindipetro-SP, Arthur Bob Ragusa.

O diretor ainda menciona que, por se tratar de um problema de gestão, a responsabilidade para suprir a falta de funcionários deve ser totalmente da empresa. “Quando a empresa precisa de contingência, chama Deus e o mundo, agora quando precisa cumprir com o número mínimo de funcionários operando, não faz esforço”, opina Ragusa.

Ocorrências recentes

Um operador, que preferiu não ser identificado, relatou que em diversos setores da Replan vem ocorrendo esse acúmulo de função por parte dos supervisores suprindo a falta de uma quantidade mínima de efetivo e que demais funcionários presentes ficam alertas para o perigo que tal atitude pode representar.

“Nesse acúmulo de função, fica impossível uma pessoa realizar seu trabalho da melhor maneira possível, [até] por conta da complexidade em se operar uma refinaria”, informou.

Segundo ele, os supervisores aceitam as demandas de dupla função, impostas pela gerência, por medo de perder o cargo, que anualmente é premiado com gratificações e bonificações pela performance. “Está claro para todos que se eles [supervisores] recusarem tal fato, perdem o cargo de confiança da gerência”, relatou o petroleiro.

O operário ainda questionou sobre até quando tal atitude será aceitável, visto que em agosto de 2018 ocorreu um acidente, sem vítimas, mas com danos ao patrimônio da Petrobrás, que, segundo ele, foi apurado como “falta de atenção humana” pela própria empresa. “A gerência da Replan permitir que seus empregados acumulem funções, elevando o risco de erro humano, é um retrocesso sem precedentes”.

Em relação ao apoio – nome dado aos funcionários que estão de folga e poderiam suprir essa demanda de falta de efetivo – denúncias apontam abuso de poder na destilação por parte da gerência, que segundo alguns trabalhadores, opta por selecionar para o apoio somente os funcionários que a convém.

Denuncie 

O Sindipetro-SP adverte para que o trabalhador denuncie qualquer atuação abaixo do número mínimo de efetivo via e-mail ou telefone. “O trabalhador ainda deve estar ciente que pode se recusar a operar duas áreas, por ser uma situação insegura”, alertou o diretor Ragusa.

As ocorrências estão sendo registradas pelo Sindicato para que em breve haja uma tomada de decisão coletiva sobre formas de mobilização contra esse tipo de atuação por parte da Petrobrás.