Petrobrás assedia trabalhadores da Replan e terceiriza setores estratégicos para barrar greves

Refinaria de Paulínia (Replan) tem repassado análises sigilosas dos combustíveis para serem certificadas por funcionários de empresas privadas como estratégia para impedir movimentos grevistas

[Da Imprensa do Sindipetro Unificado SP |Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil]

A partir da greve de fevereiro do ano passado, que mobilizou mais de 20 mil trabalhadores em mais de 120 unidades do Sistema Petrobrás, a direção da empresa começou a adotar medidas para minar qualquer outro movimento semelhante.

Apenas nas bases do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), menos de um mês após o fim da paralisação, foram aplicadas sete punições a grevistas, o que se caracterizou como um flagrante desrespeito ao acordo mediado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Além disso, a direção da companhia iniciou um processo de terceirização de setores e cargos essenciais, o que fragiliza os vínculos de trabalho e, consequentemente, o poder de mobilização da categoria.

Foi justamente isso que aconteceu na Refinaria de Paulínia (Replan), localizada no interior de São Paulo. Logo após a última paralisação, a gerência passou a terceirizar algumas áreas do Laboratório, responsável pelo desenvolvimento e análises de 20% dos combustíveis produzidos no Brasil.

“Estamos passando por um processo de terceirização desde a greve do ano passado. A empresa tem contratado terceirizados para assumir tarefas de uma das áreas do laboratório. Essa terceirização nos deixa pressionados, porque se a gente fizer uma greve o terceirizado não vai participar, porque ele será demitido”, afirma um trabalhador que preferiu não ser identificado.

Além da terceirização, está ocorrendo uma diminuição do número de trabalhadores por turno. “Alguns funcionários saíram no PDV [Plano de Demissão Voluntária] e havia a necessidade de reposição. Esperávamos que viessem pessoas através do Mobiliza [programa de transferências internas], abrindo oportunidade para funcionários de outras unidades interessados nas vagas. Mas eles usaram essas saídas, justamente, para iniciar o processo de terceirização”, explica outro petroleiro que também preferiu não ser identificado.

Como resultado dessas ações, informações sigilosas têm sido expostas a empresas privadas. “Atualmente, nós estamos certificando produtos da Petrobrás com terceirizados assinando as análises, que nunca haviam sido mostradas para ninguém. Nós temos equipamentos no Laboratório caríssimos, de última geração, que poucas empresas possuem. Esses terceirizados estão treinando, vendo todas as análises que se fazem nos combustíveis e daqui há alguns anos podem repassar todo esse conhecimento a empresas como a Shell ou a Ipiranga”, denuncia.

Assédio

O processo de terceirização tem fragilizado as possibilidades da categoria de se mobilizar para reivindicar seus direitos ou denunciar arbitrariedades da direção da empresa. “Nosso número mínimo é de cinco pessoas, mas já estamos trabalhando em três. Dessas três pessoas, uma é o líder de turno. Esse líder já vem em um carro especial, meia hora antes, junto com os supervisores de todas as unidades de processo da Replan. Por isso, esse líder já está impossibilitado de fazer greve. Sobram duas pessoas. Dessas duas, uma é o interino, que vai substituir o líder caso ele falte ou esteja de férias”, relata outro funcionário, que também preferiu não ser identificado.

“Eles estão pressionando esses interinos e pedindo pra eles fazerem parte da equipe de contingência. Eles ligam, perguntam se eles vão fazer parte da equipe de contingência. O trabalhador se sente pressionado porque já temos poucas pessoas no grupo. Com isso, o terceiro elemento do grupo fica desassistido. Ele fica sem saber o que fazer. Se ele fizer greve, ele vai fazer sozinho”, completa.

Esse movimento não é exclusivo do Laboratório. Um trabalhador da Destilação da refinaria, que participou de um corte de rendição na semana passada – ou seja, deixou de comparecer a um turno de trabalho como protesto –, relatou o modus operandi da companhia para constranger seus funcionários.

“Nós não fomos trabalhar um dia da semana passada para reivindicar as pautas da categoria já apresentadas pelo sindicato à empresa. Quando retornamos, o gerente estava na unidade. No decorrer do dia ele foi perguntando, um por um, qual era o motivo de ter faltado no dia anterior, se pelo movimento grevista ou por algum outro motivo. Coisa que até então eu não tinha visto ele fazer. É importante também dizer que os trabalhadores que optam por entrar na empresa estão contribuindo com esse processo”, explica.

Orientações

O jurídico do Sindipetro-SP orienta os trabalhadores, no caso de sofrerem algum tipo de assédio moral por qualquer gerente ou supervisor da empresa, a dizerem que não podem responder qualquer questionamento de maneira informal, apenas pelas vias legais da companhia (teams ou e-mail corporativo). Além disso, indica aos petroleiros para informarem ao interlocutor que irão gravar a conversa caso ela continue.