Greve na Replan mostra o caminho

Trabalhadores suspendem a greve iniciada na segunda, dia 2, mas mantêm mobilização para paralisação nacional convocada pela FUP…

Sindipetro Unificado-SP

Trabalhadores suspendem a greve iniciada na segunda, dia 2, mas mantêm mobilização para paralisação nacional convocada pela FUP a partir do dia 23

ADESÃO TOTAL

Os sinais de cansaço nos rostos, a pele queimada de sol, as olheiras das noites mal dormidas. Se a greve deixou nos trabalhadores e trabalhadoras e nos diretores (as) do Sindicato marcas de desgaste nos corpos, deixou a alma lavada e com a certeza do dever cumprido: o campo de batalha, a enorme refinaria de Paulínia, se tornou por uma semana o acampamento de centenas de trabalhadores que se revezavam dia e noite para     manter a greve.

Logo no domingo, primeiro dia de greve, percebeu-se que o movimento seria tenso, com a Petrobrás tentando de tudo para desmobilizar a luta. A equipe da resistência, composta por dirigentes do Unificado de todas as bases, da FUP e de sindicatos companheiros revezaram durante toda a tarde e noite para evitar que os fura-greve de sempre se rastejassem para dentro da Refinaria.

Por volta das 23h30 os primeiros ônibus do turno da zero hora começaram a chegar e imediatamente os trabalhadores se postaram do lado de fora das portarias. Tinha início a greve de cinco dias pelo cumprimento judicial de garantir o pagamento do extra-turno para os admitidos após 1999.

Danilo Silva, coordenador da Regional Campinas do Unificado, e Itamar Sanches, coordenador geral do Sindicato, explicaram como estava o movimento e as tentativas de negociação com a empresa. “Até agora movimento é restrito à Replan, mas pode ganhar contornos nacionais a partir da nossa greve”, avaliou Danilo.

O coordenador da FUP e também diretor do Unificado, João Moraes, fez um breve retrospecto da luta dos trabalhadores da Replan pela garantia do extra-turno, direito que outras unidades perderam e lembrou da luta pela PLR e por mais segurança. “Nesta segunda, em todas as bases da FUP, estaremos realizando atos pela PLR, por mudanças na política de SMS e também em solidariedade ao movimento dos companheiros aqui da Replan”, salientou Moraes.

Ratoduto na desova
Em mais uma atitude irresponsável, a gerência da Replan “inventou” uma 13ª portaria, de fato uma viela que passa por um canavial em um canto ermo do entorno da refinaria, conhecido como “desova” (local onde bandidos deixam restos de carros roubados e, às vezes, cadáveres de vítimas). Pois foi nesse local, no meio da madrugada, que a empresa orientou pelegos a se arriscarem, atravessando esse ratoduto e colocando em risco a segurança das pessoas.

Desde o início a Replan buscou intimidar os ativistas, tentando, inclusive, proibir que dirigentes que passavam a noite em claro em frente a portaria utilizassem o banheiro. Essa seria apenas uma das práticas anti-sindicais e de falta de respeito aos direitos das pessoas que a Petrobrás iria protagonizar ao longo dos dias.

Luta dos petroleiros teve o apoio dos companheiro terceirizados e de diversas categorias.

Negociação e resistência

Após o terceiro dia de greve, a Petrobrás concordou em negociar com os trabalhadores e marcou uma reunião para a quinta-feira, às 10h, no Rio de Janeiro. “Os trabalhadores mostraram sua força e organização, e esperamos que a Petrobrás tenha uma proposta aceitável para discutirmos em assembleia”, afirmou Itamar Sanches, coordenador do Unificado.

Nos primeiros dias de greve, em vez de buscar o caminho do diálogo e da negociação, a Petrobrás resolveu radicalizar, mantendo uma equipe de contingência que não dispunha de efetivos suficientes para manter a segurança da refinaria. Para pressionar, enviou telegramas para a casa dos trabalhadores e, para evidenciar seu desespero, fretou helicópteros para transportar pelegos para dentro da refinaria.

Apesar de buscar sempre o caminho da negociação, os trabalhadores não abriram mão da resistência e no final da quinta-feira, após a reunião da empresa com o Unificado e a FUP não chegar a um acordo, os trabalhadores votaram em assembleia a continuidade da greve.

O movimento ganhou a adesão dos trabalhadores terceirizados, que paralisaram as atividades por um dia em solidariedade ao movimento.

A quinta  e sexta-feira foram dias de muita pressão, conversas, tentativas de intimidação, mas os trabalhadores resistiram. No sábado, o desembargador da Justiça do Trabalho, Renato Buratto, visitou as instalações da empresa, conversou com os pelegos que afirmavam estar há uma semana dentro da refinaria, “por vontade própria” e ficou de apresentar um parecer no dia seguinte. Nova assembleia manteve a greve por mais um dia.

RECAP – MAUÁ PARA EM SOLIDARIEDADE

Assim que foi deflagrada a greve na Replan, os companheiros e companheiras de Mauá prontamente aprovaram um movimento de solidariedade.

No próprio domingo, dia 1, em assembleia, os trabalhadores da Recap aprovaram a realização de uma greve de 24 horas, que teve início às 15h da segunda-feira.

A paralisação teve adesão de 100% da produção e 40% do administrativo, em uma demonstração contundente de organização, mobilização e unidade da classe petroleira.

 Solidariedade – Edisp entra na briga

Você conhece a expressão “dar um boi para não entrar em uma briga”. Pois é, o pessoal do Edisp está dando dois bois para não sair desta. Apesar das dificuldades de se fazer o movimento em escritório, os companheiros e companheiras aderiram com firmeza ao compromisso de solidariedade da luta que travada pelos petroleiros e petroleiras da Replan.

Nas conversas nos corredores, ou no saguão principal do prédio da Avenida Paulista, era quase unânime a posição em favor da reivindicação e a disposição para ajudar de alguma maneira.

Na terça-feira, um dia após eclodir a greve, os companheiros se reuniram em assembleia e deicidiram realizar uma paralisação no meio do expediente da quinta, dia 5. Concentrados no espaço de convivência do Edisp, os trabalhadores paravam após a volta do almoço para ouvir as explicações dos dirigentes, saber do andamento da greve e debater como fazer para mostrar para a empresa que todos os trabalhadores estão juntos nesta luta.

“Uma das maneiras de demonstrar essa solidariedade, além da paralisação de uma hora, foi a utilização de fitas pretas nos braços”, explica o diretor  do Unificado Thiago.
“Considerando a pressão das chefias e o histórico do escritório, de ter pouca participação nas atividades junto com o pessoal da produção, acho que o movimento foi muito bom”, completa a diretora Marbe Cristina.

Greve é suspensa para ser retomada junto com movimento nacional

Com a quadra da Regional Campinas do Sindicato lotada, os petroleiros deliberaram, na tarde do domingo, dia 8, a suspensão da greve para que seja retomada no dia 23 junto com o movimento nacional convocado pela FUP.

O coordenador do Unificado, Itamar Sanches, iniciou seu discurso saudando o Dia Internacional da Mulher e destacando a importância das companheiras na atual greve.
Em seguida, foi relatada a liminar conferida pelo desembargador Buratto, as poucas expectativas de que a Justiça se coloque ao lado dos trabalhadores, mas a firme intenção do Sindicato de não abrir mão do direito do extraturno e resistir aos ataques da Petrobrás. Foi relatada, também, a negociação ocorrida com a gerência geral da Replan sobre a liminar.

Por ampla maioria, a suspensão da greve foi aprovada. Os dias parados serão descontados em três parcelas, mas ficou acordado de que não haverá reflexos para os demais direitos (férias, anuênio e avanço po mérito etc.).

“Vimos no rosto de cada petroleiro e petroleira a expressão de vitória. Apesar de toda a pressão, ninguém esmoreceu, saímos da greve ainda mais unidos e vamos fortes para o movimento do dia 23”, afirmou Danilo Silva, coordenador da Regional ao final da assembleia.