Honduras: Ministro das Relações Exteriores defende atitude brasileira de abrigar Zelaya

O chanceler Celso Amorim passou a tarde desta terça-feira (29) debatendo com senadores…

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O chanceler Celso Amorim passou a tarde desta terça-feira (29) debatendo com senadores a crise em Honduras e a situação "única e singular" do presidente Manuel Zelaya, abrigado desde o dia 21 na embaixada brasileira em Tegucigalpa. Otimista, Amorim defendeu que a atitude brasileira, ao abrigar Zelaya, "reconduz à retomada do diálogo".

"Nossa ação reconduz à retomada do diálogo, algo que não estava acontecendo", afirmou Amorim, durante reunião extraordinária da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senad. "O fato de Zelaya estar hoje no país é um convite ao diálogo", destacou, divergindo de senadores como José Agripino (DEM-RN) e Sérgio Guerra (PSDB-PE), que expressaram o desejo de ver Zelaya asilado.

Sem abrigo, Zelaya teria sido "preso ou morto"

"Não sei o que teria acontecido caso o Brasil não o tivesse aceito [na embaixada]. Ele teria sido preso, morto ou estaria em uma serra planejando uma insurreição, uma revolução. Achamos que estamos contribuindo para o diálogo e nossa embaixada não está interferindo [em assuntos internos hondurenhos]", afirmou o chanceler.

Amorim não concordou com a tese do asilo e procurou mostrar que a situação criada com o retorno de Zelaya pode ser considerada como "única e singular no âmbito da diplomacia internacional". Isto porque, explicou o ministro, não se trata de um líder deposto que pediu asilo político, mas sim de um "presidente legítimo que foi deposto e que voltou ao seu país para retomar, com base em conversações, o poder".

"Nenhum golpe foi tão amplamente criticado"

Ao defender a decisão do Itamaraty das críticas oposicionistas, o ministro lembrou que o Brasil não está só. Tanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) quanto a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) criticaram o que classificaram de golpe contra Zelaya.

"Não me lembro de nenhum golpe de Estado que tenha sido tão amplamente criticado, tanto pela OEA quanto pela ONU e por outras lideranças mundiais. Trata-se não apenas de um presidente que buscava se exilar por golpe em seu país, mas de um presidente legítimo, assim reconhecido pela comunidade internacional, que quase literalmente bateu à nossa porta. Então consideramos como correto dar esse abrigo", resumiu Amorim.

"Toda violência partiu do governo golpista"

Vários senadores indagaram sobre a conduta de Zelaya na embaixade, alguns manifestando o temor de que isso seja visto como uma interferência brasileira no país. Amorim recordou que toda a violência tem vindo do lado dos golpistas.

“Fizemos advertências ao presidente Zelaya de que ele deveria evitar alguma manifestação que significasse insuflação a situações violentas. Apesar das reclamações, tivemos êxito. Não houve ato de violência dos seguidores de Zelaya. Houve manifestações pacíficas. Os atos que poderão ter resultados em violência, os únicos atos que teriam sido resultado em morte são atos da repressão, do governo golpista”, disse o ministro.

A posição do Brasil na crise hondurenha dividiu as opiniões dos senadores. O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), afirmou "não haver dúvidas quanto ao fato de Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, ter sofrido um golpe". Mercadante pediu, que os parlamentares brasileiros se posicionem claramente contra o golpe.

Inácio Arruda (PCdoB-CE) disse não haver sentido em ficar perguntando qual é o status de Zelaya. "O que importa é que o Brasil defende a democracia e os direitos de um presidente legitimamente eleito pelos hondurenhos", declarou.

Polêmica com Alvaro Dias

Já o senador José Agripino (DEM-RN) considerou que o Brasil esteja agindo como "avalista" das ações do presidente deposto, "entrou de gaiato nesse navio" e Zelaya está usando o prestígio da diplomacia brasileira a seu favor. Para Agripino, não é de todo impossível a eminência de um conflito armado em que o Brasil acabe sendo envolvido.

Quanto ao líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), expressou a preocupação de que a diplomacia brasileira fique refém da crise em Honduras, que o tucano definiu como um "pequeno país". Amorim concordou apenas com a preocupação: "Naturalmente esta é uma preocupação nossa. Mas lá o que está em jogo não é apenas um pequeno país da América Central, mas o destino da democracia, pelo menos na região, onde a tolerância a um golpe de Estado poderia inspirar outros golpes", disse.

O ministro polemizou com o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), quando este insinuou que o Brasil sabia previamente da volta de Zelaya, concordando portanto com a tese do governo golpista de Honduras: "Tenho 50 anos de vida pública. Se Vossa Excelência preferir acreditar nas palavras de um golpista, não posso fazer nada. Não soubemos, não participamos e fomos surpreendidos quando ele bateu às portas da embaixada", sublinhou.